Resenha: Filipe Ret, ‘Chefe do Crime Perfeito’

Filipe Ret, com agressividade, deu os primeiros passos no rep game quando juntou-se ao seu DJ/beatmaker Mãolee e formaram o duo Numa Margem Distante, esbanjando profundidade em relíquias como “Hoje”, “Só Precisamos de Nós”, “Desenho”, aquela icônica participação na “Jamais Serão” do Start Rap, etc.

Formado em jornalismo, começou a escrever não só músicas, como também um blog para seus aforismos e máximas que até hoje marcam muita presença em suas músicas. O resto é história.

“[‘Chefe do Crime Perfeito’] é uma grande metáfora”, disse Ret. “Como se minhas rimas fossem drogas especiais e eu me organizasse para vendê-las. É como eu vejo o jogo do rep hoje, é como vivo o dia-a-dia. Criando ‘rimas’ para chapar a galera e me organizando para vendê-las para o máximo de pessoas.” Aqui é onde ele fala da sua correria como MC, os frutos que vem colhendo graças ao emblemático Vivaz, que foi onde ele realmente levantou voo rumo ao topo. Várias alusões aqui é uma referência a sua correria. Uma faixa perfeita para abrir um disco.

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“Escolhi MC Cidinho para abrir o CD quando descobri que ele era meu fã. Mas eu sou fã dele há muito mais tempo! Cidinho é o Pelé do funk no Brasil.” — Filipe Ret

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Produzida por Neguim — que nunca peca em produção alguma —, traz MC Cidinho (da dupla de Funk carioca Cidinho & Doca) na introdução, entregando seu “Fé em Deus” como na época dos Funks clássicos. Soa como nos velhos tempos.

Carregando a glória e a dor de viver do seu jeito, ele traz o refrão para anteceder o primeiro verso, não hesitando em esbanjar orgulho de ser quem é… independente dos erros que cometa, das dores que sinta, das adversidades que enfrenta, that’s him. Na glória ou na dor, that’s him.

Minha droga é a melhor do mercado/ Encho rodas de rua, deixo shows lotados” faz jus à realidade que ele vive agora, tendo shows lotados porque sua música (droga) é boa. Ele se gaba de que ela é a melhor do mercado porque sua agenda de shows não pára, só cresce.

“Vivaz CD de ouro, quem tentar é louco” representa a importância desse disco, tanto para sua carreira quanto para o hip-hop nacional em si, onde ele duvida que façam algo melhor e que marque mais que o dele.

Estando sempre no combate para o ponto de venda, ele nunca vacila, e está sempre disposto a dominar mais áreas. Afinal, agressividade é a chave, aprenda! Mas não pense você que é agressividade física ou verbal: é ter sede de progredir, prosperar, impor sua sede de conquistar e fazer com voracidade o que você almeja. Agressividade como inspiração. Essa é a chave para abrir as portas rumo ao sucesso.

Sente, que a vingança hoje vem a cavalo” refere-se aos tempos antigos, onde esse era o meio de transporte mais rápido.

Não falo o que eu sei, mas sei tudo que eu falo. Peita! Embaralho tua mente” Nesse trocadilho ele realmente pode embolar a mente do ouvinte, porque, se ele falasse tudo que sabe, talvez nem estaria aqui para fazer essa linha. Às vezes o melhor remédio é ficar calado e falar só no momento certo. Por isso, ele pensa antes de abrir a boca, para não defecar pelo lugar errado.

Refino meu entorpecente, vendo para caralho. Aceita!” significa que sua música (entorpecente) é refinada, ou seja, feita com esmero para que possa ser vendida com qualidade suficiente para atrair novos horizontes, expandir sua arte para mais lugares. E querendo ou não, ele se perpetrou no rep nacional.

No segundo verso, enquanto aperta um beck e mantém o respeito, ele alude à icônica música do Planet Hemp, “Mantenha o Respeito”.

Doutrino minha tropa, não estou de bobeira” mostra que ele mantém sua gravadora em ordem,  e põe regra na casa para manter a organização sempre em dia.

Com muita emoção para refinar a droga, e frieza para vendê-la, é sempre uma emoção compor, gravar e por conseguinte, é necessário ter a frieza para expandir (vendê-la).

Mas, independente de invejosos fedorentos que só sabem ficar bolados com o sucesso de Ret, conquistar é melhor que ganhar. Todavia, a conquista é, digamos, o que marca, fica, enquanto a vitória, diga-se de passagem, é como algo efêmero que não permanece e se esvai.

E para finalizar, que a Babilônia não caia, porque ele é a própria. Isto é, levando ao pé da letra, “que a Babilônia não caia” pode ter dois significados: 1) Que ele é a própria oposição à Deus. (O que seria estranho, porque ele não é ateu.) 2) Que ele faz disso uma metáfora, no intuito de nunca ter agenda vazia, para continuar sempre fazendo shows e expandindo seu trabalho.
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